Por Central Cultura de comunicação - Uma propriedade tão grande que ganhou nome de cidade: Zatarlândia. Como a família libanesa conseguiu esse império? Concentração de terra que atualmente é motivo de desigualdade e conflito no município de Pinhão. São cerca de 15 áreas que estão ocupadas e são reivindicadas pela empresa (saiba mais aqui).
Não há respostas definitivas, mas alguns trabalhos acadêmicos ajudam a entender. Um primeiro registro fundamental é de que os Zattar não foram os primeiros a chegar nas terras que atualmente tem os documentos e pedem reintegração. Segundo a pesquisadora Dibe Salua Ayoub, em um dos trabalhos publicados sobre o tema (disponível aqui), a madeireira comprava pinheiros das propriedades do agricultores. Os contratos assinados, no entanto, não eram da compra da madeira, mas das propriedades.
“A população, que naquela época era de maioria analfabeta, assinava contratos confiando que estava vendendo árvores, mas na verdade estava abrindo mão de suas propriedades”, afirma um trecho do trabalho.
Segundo a pesquisadora, essa prática ocorria acompanhada de violência e foi realizada pela empresa de 1950 à 1980. Vários outros documentos, inclusive oficiais, registram essa ação violenta. Com isso, as alternativas eram migrar para cidade, encontrar outro local para se estabelecer com a família ou, em alguns casos, virar funcionário da empresa.
No livro “Madeira de lei: uma crônica da vida e Obra de Miguel Zattar” (Edição do autor, 2008), escrito por Nilson Monteiro e cujos direitos são reservados ao espólio de Miguel Zattar, consta a informação que a empresa tinha sete mil escrituras de terras em Pinhão. Isso na época em que o fundador da empresa, João José Zattar, morreu e passou o comando para o filho Miguel.
A elogiosa biografia de Miguel Zattar menciona, em um dos trechos, que devido ao “acirramento da disputa familiar, em 1992, a empresa passou por uma crise de grandes proporções. Isso favoreceu a proliferação de oportunistas em Pinhão, invadindo terras e/ou furtando madeira”.
Na década de 1970 foi realizada a medição judicial e 'regularização' do território de Pinhão, incluindo o pedaço atualmente em disputa. A pesquisa de Jefferson de Oliveira Salles (disponível aqui) identifica que nesse período várias famílias tradicionais de Guarapuava, herdeiras de sesmarias, reivindicavam terras. Dentre os que se auto declaravam proprietários, a família Zattar, que obteve documentos também nesse período.
O trabalho acadêmico demonstra que a proximidade de alguns requerentes com juízes e responsáveis pela medição oficial e regulamentação das terras pode ter causado favorecimentos para alguns proprietários. Isso em várias áreas.
Destaca-se que nesse ato de formalização das terras não há registro de participação dos camponeses. A afirmação é feita com base no relatório da Comissão Especial de Investigação, realizada pela Alep (Assembleia Legislativa do Paraná), em 1992.
O trabalho apresenta outras informações que revelam como a propriedade (documentos) na região em conflito foi transferida do Estado para particulares. Em muitos casos, a propriedade era fornecida para quem não morava ou trabalhava na terra. Um dos aspectos que iniciaram o conflito que teve mais um capítulo hoje (1º de dezembro).
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